terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Poeira e o Tempo

A Poeira e o Tempo

A poeira é a essência da Terra, a leveza do pó do solo, aquilo de que somos feitos.
Carregada e levada pelo vento, viaja pelo ar e se pousa sobre nós, sobre as coisas.
Passados os segundos, minutos, horas, dias , meses, anos.
Passado o tempo.
Acumulando-se nos cantos ;
pode formar montanhas.

O tempo permite o pó que revela o tempo e com o tempo é deslocado, ao vento, ao mar.
Todo o tempo está no ar.
O espaço decorrido, era o momento, tempo passado, passando.

E senão houvesse tempo? Não estaríamos aqui. Com o tempo estamos,
Com o tempo, voaremos.Como a poeira invisível, imperceptível, no ar, marcando as coisas, ajuntado-se nos cantos. Não seremos, seremos um tempo nada.

O tempo está aqui conosco com sua função de permitirmo-nos um tempo para marcar as coisas, guardar poeira. Onde há poeira o tempo passou.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Medo do Fogo

O fogo se aproxima e eu temo
por minha pele frágil, fácil de queimar.
O fogo está no ar. Respiramos um ar quente que fere nossos foles.
Navegamos em um mar de águas quentes impróprias para beber, não é possível banharmo-nos nelas.

Fomos feitos do fogo mas, de uma essência que não suporta calor intenso, alto calor.
O calor do fogo, a queimar.
Destrutivo, devorador.


O fogo nos produziu; construtivo.
Não o conhecíamos.
Depois que fomos apresentados, passamos a brincar com ele. De forma provocante, o insultamos. Ele reagiu, fugimos dele loucamente, em vão. Voltamos ao começo.

Caçoamos do poder natural do fogo e ele reagiu. Corremos dele.
Corremos, corremos, .... ele rápido e poderoso alcançou-nos, subvertendo-nos ao nada a inexistência, ao tempo sem tempo.
Nos devolveu ao todo .

Voltamos ao pó pelo mesmo fogo que produz o pó essencial.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Luna e Ana

Lua e a Ana
Luna é irmã de Ana.
Ana é irmã de Luna.

Ana é Terra. Luna é Lua, irmã mais nova, constante e eterna companheira de viagem e de existência de Ana.
Sempre juntas rodam e rebolam suavemente no espaço.
Elementos do Universo . Rodando , luz e sombra
Grande, luz sem sombra; Lua cheia; metade luz, metade sombra, minguante meia, depois de total sombra; pequena luz, grande sombra,abrindo luz, renovando e ...
Cheia, linda redonda, doce dos amores e dos mistérios, dos desejos dos encantos.
Ana se encanta com Luna
e Luna irradia Ana.
Luna e Ana,Ana e Luna.Assim, por quanto tempo? Esta amizade é antes de existir gente e castelos sobre a Terra.
A Lua e terra, corpos celestes que guardam entre si a história do Cosmo.
Graça Pêra
2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Meu Sonho (Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tempo de Àrvore





Tempo de Árvore


Pensando se diz:
“Corta-se uma arvore e planta-se outra;” Isto é possível.
Mas, uma árvore tem um tempo; o tempo para ser árvore.
O tempo de ser semente, antes fruto carnudo e suculento que comido expõe a semente que é lançada,espontaneamente, jogada, cuspida,caindo na terra,o chão, seu lastro,onde se envolve, afunda, bebe água.
Cresce, incha, fecunda, brota: folícula, caulículo, pequena raiz,radícula e depois de muito tempo árvore, frondosa, florosa, depois frutífera,milhares de frutos, milhares de sementes, muitas árvores.
Certo é pensar:Cortando-se uma árvore, mata-se milhares de árvores.

Maria das Graças Pereira Nunes.2009

A velha rua nova

A rua onde morei está no mesmo lugar.Mas, a rua onde morei está diferente, mudada.
Muitas casas foram reformadas e jardins assassinados. Prédios altos em lugar dos chalesinhos.
Onde está a amendoeira mais antiga? e os araçazeiros? e o frondoso ingazeiro?

A amendoeira mais antiga foi cortada. Ocupava espaço para estacionar um carro.
De todos os araçazeiros, somente restou um. O que fica no quintal de D. Cabocla. Lá ninguém se atreveria a entrar, muito menos tocar em alguma planta. O frondoso ingazeiro! que alegria! não foi cortado. Continua lá na pracinha, fazendo sombra ao calor do Sol no verão, abrigo de fortes pingos de chuva no inverno. Sombreando e enfeitando a pracinha, alberqgue de pássaros, alegre ao vento. Ainda bem que ele está lá.

A rua onde morei está no mesmo lugar.Mas, a rua onde morei está diferente, mudada.Nem tanto assim D. Cabocla, ainda viva, velhinha, mudada, diferente por fora e, certamente diferente por dentro mas, cheia de memórias, guarda um pedacinho de mata em seu quintal, ainda tem um araçazeiro bem machucada pela criançada, generosamente ofertando goiabas, ainda bastante doces.Existem casas novas, na rua velha e parte da rua ficou nova onde existem casas antigas.

A rua onde morei ainda existe, mesmo modificada pelo tempo, pela vida das pesoas que vieram morar ou moram ainda nela. Mudada como eu. Ainda viva.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Adeus presente de Michael

Agora fala-se demais em Michael Jackson e ainda é pouco. Importante: fala-se muito bem. Diferente de uns anos atrás, quando se machucava a imagem do artista, frisando sua fama de pedófilo. De repente, eu pensei na derrota dele e senti muito. Mas, como uma ave, a foenix, ele levantou-se das cinzas e ressurgiu, como uma semente, quando enfiada na cova, que foi aberta para recebê-la, brota e começa a desenvolver-se em árvore, que produz frutos. Tudo muito rápido. No caso de Michael, em poucos dias, ele já pareceu árvore frondosa e frutífera. O que sempre foi, principalmente para sua família, uma árvore viva. Mas, o filho da senhora Katherine Jackson morreu. Hoje, a morte é motivo de certa euforia, o que esconde o seu verdadeiro sentido de fim, de acabamento, de mudança e dar um novo sentido, as vezes imperceptível de continuidade, mesmo quando a pessoa em questão, não é famosa. Os videos, as músicas. O morto está vivo. Viva as novas tecnologias com a velocidade das informações e veiculação de imagens novas e velhas.
Maria das Graças Pereira Nunes.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A Arte de Ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meirelles