segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As lembranças doem mais


Nunca mais postei nada. A tristeza tomou conta de mim de uma forma que eu não previa. Como a morte produz tristeza! Mesmo quando sabemos que alguém querido está para morrer, a gente não aceita. Não há como aceitar esta mudança de estado, fim de ciclo, passantia, desencarnar....São tantas as  explicações para a morte. Todas com a intenção de consolar e não consolam. Porque a gente precisa  de tempo para aceitar, antes entender a situação que levou o outro ao fim .Deixar de se sentir culpado. As lembranças não serão evitadas, enquanto a mente estiver boa e houver vida. No meu caso, meu pai agonizou muito.Cinco dias de atividade, ele lutava na sua consciência. Não queria que ele me visse. Agonizava mais ainda mais quando me via ou ouvia minha voz. Eu o impressionava muito. Ele me tinha em muita conta. Eu era a filha dele.  Foi muito triste ver papai ter uma crise respiratória. Ficou respirando por aparelhos. Isto acontece com muitas pessoas, eu sei. Mas, a primeira vez que vi uma situação dessas, foi com papai.

 Confesso que nunca vi papai comer naquela enfermaria de emergência;   onde ele ficou por oito dias e morreu. Não davam comida sólida para ele. Em uma das visitas vi que ele pediu comida, pediu água. Não podia comer. Bebia uma aguinha para engolir a medicação. Quando já podia respirar, estava muito fraquinho, bem magro todas as suas reservas corporais foram devoradas. Falei que ele precisava comer. A enfermeira disse que se ele comesse não respiraria. Portanto, só tomava uma sopinha, um mingauzinho, tudo muito ralo, líquido.Dizia sua neta que ficava com ele. Só podia ingerir assim. Tinha um edema pulmonar. Depois que morreu soubemos que o edema estava dominado mas, pegara pneumonia, infecção do trato respiratório, muita febre. Vi que  seus lábios descascavam, as tensões  arteriais dele igaualaram e ele não resistiu.. A imagem de sua agonia está muito nítida. Junto com esta imagem as lembranças de quando ele estava jovem e saudável.Grande contraste

Inflizmente ele maltratou muito seu corpo. Agrediu muito seu aparelho repiratório.Fumou e bebeu muito. Depois do primeiro derrame deixou de beber, mas continuou fumando até dez anos atrás quando o médico deu-lhe ultimato:" Se o senhor não deixar de fumar, o senhor vai morrer". Então ele deixou o cigarro. Um pouco tarde. Mas, não sei se foi o fumo e a bebida que o mataram. Falhamos com ele, não prestamos atenção em sua voz arquejante, sua tosse, nos meses anteriores.Eu não morava com ele, mas toda vez que ia em sua casa, eu o via tossir muito. Apesar de uma aparência forte, ele não estava bom.Estava no processo. Sua esposa e filhos não advinharam isto. Eu não sabia do  que se tratava. Estava planejando levá-lo a outro médico. Consegui um endereço de um centro de saúde e entreguei para sua esposa.Ele não chegou a ir. Ela não o pode levar logo. Eu o devia levar. Talvez se eu o tivesse levado, se tivese deixado o trabalho para cuidar dele, ele resistisse mais. Eu não fiz isto.Achei  que ela devia fazer.

 Os meses se passaram mas, eu ainda não consigo parar a dor.Parece que ela aumentou. Os seus outros filhos estão vivendo, a vida não pode parar. Têm família para cuidar e outras atividades. Devem lembrar muito  dele. Papai morou mais tempo com eles que comigo. Mas, acho que ninguém lembra com os detalhes que eu lembro.A minha infância, a sensibilidade de papai me mostrando a natureza, os animais, as plantas.Fui a  filha de sua juventude, aprimeira. Ele não queria que eu ficasse triste de forma alguma. E eu, nesses últimos anos, o vi chorar algumas vezes.Aquele homem alegre que fazia as pessoas rirem o tempo todo, contorsia o rosto para chorar.Chorava por sua situação.Mas, não se moviementava para mudá-la.Receava sair de perto de sua mulher.Ela era sua confiança. No final apegara-se muito mais a ela. Ninguém achava a proposta de ele ir morar comigo uma boa solução.Mopro longe do centro. Portanto, eu como sou filha de seu primeiro relacionamento,deixei que ele ficassse com sua família.

Sei que maiores são as lembranças de sua alegria. Lembro de seu carinho. Sinto pelos momentos de incompreensão da minha parte. Queria o melhor para ele. Entedia seus temores mas, queria que ele reagisse diferente. As coisas não são como a gente quer. Os acontecimentos, mesmo quando esperados, na hora que acontecem são de certa forma inesperados.Depois que tudo acontece e morremos, não voltamos mais. A certeza, que podemos ter, é que todos iremos.No tempo de cada um. Portanto façamos o melhor para com todos pensando no que realmente é melhor para cada um. Precisamos nos excluir em sentimentos próprios nas relações, nos doar,  para ver o outro, apenas o outro.Gostaria que papai estivesse vivo, e  bem. Um idoso de bem com a vida. Mas, a vida passou para ele, nesta esfera e, pensamos que sabemos de nós? Não sabemos de nada.

Agora escrevi sobre minha dor.Parece que a dor maior é depois.O sentimento baseado nas memórias e nas conclusões pessoais é uma dor forte. Mas, ninguém ficará para semente. A vida é eterna. As pessoas não são. E preciso acostumarmo-nos com a idéia de que não ficaremos  para sempre.Vamos morrer. Precisamos é vigiar para aproveitarmos melhor os nossos dias.Desejo-me consolo e conforto. Até breve.