segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Memórias 1


Lembrando Alvinho.
Conheci Ávaro relativamente  há pouco tempo.Uma pessoa alegre, muito educada de grande erudição na língua e literatura brasileira e portuguesa.Excelente revisor de textos e  falava bem  françês.Dedicava-se à leitura.Deu-me um livro muito importante.Um estudo da poesia de Cora Coralina, lindas poesias rurais e muito natureza.Uma análise da pessoa e obra da poetisa. Amei. Gostava muito de Álvaro e continuo gostando das lembranças dele. Sua rapidez  e meticulosidade no tabalho. Sua dedicação a esta casa de educação, revelada na qualidade do períodico, A Revista da Faced.

Conversavámos muito, ríamos muito, um irmão, uma pessoa singular.Não faz muito tempo ele me mostrou sua foto enquanto criança. Muito lindo. Um menino de Ubaíra, aquele homem honrado, trabalhador. Nordestino esforçado. Letrado no sentido da palavra e muito mais. Ficou muito sentido com a partida de José Saramago.

Certa vez ensaiamos passo de tango. A platéia, nossas colegas, aplaudiu.Brincadeira, não sei dançar tango. Estava sempre brincando.Pequeno, parecia criança. Não sabia de sua doença.Não pude cuidar dele.Mas, nada mais importa. Ficam as cenas, os sentimentos fraternos, a ações de  amizade que acaba. Mas, todos nós sabemos que a vida é eterna.Se a vida é para sempre, todos estamos sempre vivos na memória divina.

 Não verei mais Álvaro nesta vida. Talvez na outra.

Espero que ele seja guardado por Jeová e que possa ressuscitar, em um mundo melho, com um corpo saudável. É o que espero para todos os entes queridos, que já se foram. Espero para mim quando for. Espero para nós todos.

domingo, 11 de novembro de 2012

Passeando pelo Tempo

Ela estava sentada na cama. O olhar sem brilho, turvo,azulado, cinza pelo tempo. O olhar de uma velha. O olhar cheio de lembranças, mas inexpressivo pelo domínio da catarata. Mal cuidada aquela senhora nunca fora levada a um oftamologista, para um exame.Frequentara pouco hospitais e clinicas.Naquele tempo não se andava muito em hospitais. Os costumes eram outros.Muitas pessoas morriam muito velhas.Ela morrera com suas lentes óticas cobertas pela catarata. Mas, vivera noventa e cinco anos e ainda enxergava. Enxergava sua neta, criada e mimada por ela,  já moça, cheia de opiniões sofrendo com a doença da avó. Aquela senhora idosa de aparência solene, sabia que iria morrer. Tinha consciência de si. Sabia que estava idosa e, agora, doente, sem poder andar, precisando dos cuidados dos outros; estava  triste mas, era a vida. Estava findando tinha certeza disso. Era o fim do seu  fim. Havia solicitado a sua filha um advogado. Queria organizar a vida de sua neta.Sua filha não fez o que ela pediu. Alegou que era para não preocupar sua neta querida.Ela impotente, amava tanto sua neta que não queria que ela sofresse por nada.Se ao menos pudesse deixá-la casada. Mas, com quem? A moça não tinha pretendentes, só queria saber de estudar..

Estava na casa da filha para ter os cuidados necessários. Mas, queria ir para sua casa, ficar com sua neta. Isto não era mais possível e, esta impossibilidade, machucava aquela nobre senhora. Sua neta não avaliava esta situação. Não tinha condições de avaliar. Preocupava-se demais com assuntos mais particulares que não via mais detalhes.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As lembranças doem mais


Nunca mais postei nada. A tristeza tomou conta de mim de uma forma que eu não previa. Como a morte produz tristeza! Mesmo quando sabemos que alguém querido está para morrer, a gente não aceita. Não há como aceitar esta mudança de estado, fim de ciclo, passantia, desencarnar....São tantas as  explicações para a morte. Todas com a intenção de consolar e não consolam. Porque a gente precisa  de tempo para aceitar, antes entender a situação que levou o outro ao fim .Deixar de se sentir culpado. As lembranças não serão evitadas, enquanto a mente estiver boa e houver vida. No meu caso, meu pai agonizou muito.Cinco dias de atividade, ele lutava na sua consciência. Não queria que ele me visse. Agonizava mais ainda mais quando me via ou ouvia minha voz. Eu o impressionava muito. Ele me tinha em muita conta. Eu era a filha dele.  Foi muito triste ver papai ter uma crise respiratória. Ficou respirando por aparelhos. Isto acontece com muitas pessoas, eu sei. Mas, a primeira vez que vi uma situação dessas, foi com papai.

 Confesso que nunca vi papai comer naquela enfermaria de emergência;   onde ele ficou por oito dias e morreu. Não davam comida sólida para ele. Em uma das visitas vi que ele pediu comida, pediu água. Não podia comer. Bebia uma aguinha para engolir a medicação. Quando já podia respirar, estava muito fraquinho, bem magro todas as suas reservas corporais foram devoradas. Falei que ele precisava comer. A enfermeira disse que se ele comesse não respiraria. Portanto, só tomava uma sopinha, um mingauzinho, tudo muito ralo, líquido.Dizia sua neta que ficava com ele. Só podia ingerir assim. Tinha um edema pulmonar. Depois que morreu soubemos que o edema estava dominado mas, pegara pneumonia, infecção do trato respiratório, muita febre. Vi que  seus lábios descascavam, as tensões  arteriais dele igaualaram e ele não resistiu.. A imagem de sua agonia está muito nítida. Junto com esta imagem as lembranças de quando ele estava jovem e saudável.Grande contraste

Inflizmente ele maltratou muito seu corpo. Agrediu muito seu aparelho repiratório.Fumou e bebeu muito. Depois do primeiro derrame deixou de beber, mas continuou fumando até dez anos atrás quando o médico deu-lhe ultimato:" Se o senhor não deixar de fumar, o senhor vai morrer". Então ele deixou o cigarro. Um pouco tarde. Mas, não sei se foi o fumo e a bebida que o mataram. Falhamos com ele, não prestamos atenção em sua voz arquejante, sua tosse, nos meses anteriores.Eu não morava com ele, mas toda vez que ia em sua casa, eu o via tossir muito. Apesar de uma aparência forte, ele não estava bom.Estava no processo. Sua esposa e filhos não advinharam isto. Eu não sabia do  que se tratava. Estava planejando levá-lo a outro médico. Consegui um endereço de um centro de saúde e entreguei para sua esposa.Ele não chegou a ir. Ela não o pode levar logo. Eu o devia levar. Talvez se eu o tivesse levado, se tivese deixado o trabalho para cuidar dele, ele resistisse mais. Eu não fiz isto.Achei  que ela devia fazer.

 Os meses se passaram mas, eu ainda não consigo parar a dor.Parece que ela aumentou. Os seus outros filhos estão vivendo, a vida não pode parar. Têm família para cuidar e outras atividades. Devem lembrar muito  dele. Papai morou mais tempo com eles que comigo. Mas, acho que ninguém lembra com os detalhes que eu lembro.A minha infância, a sensibilidade de papai me mostrando a natureza, os animais, as plantas.Fui a  filha de sua juventude, aprimeira. Ele não queria que eu ficasse triste de forma alguma. E eu, nesses últimos anos, o vi chorar algumas vezes.Aquele homem alegre que fazia as pessoas rirem o tempo todo, contorsia o rosto para chorar.Chorava por sua situação.Mas, não se moviementava para mudá-la.Receava sair de perto de sua mulher.Ela era sua confiança. No final apegara-se muito mais a ela. Ninguém achava a proposta de ele ir morar comigo uma boa solução.Mopro longe do centro. Portanto, eu como sou filha de seu primeiro relacionamento,deixei que ele ficassse com sua família.

Sei que maiores são as lembranças de sua alegria. Lembro de seu carinho. Sinto pelos momentos de incompreensão da minha parte. Queria o melhor para ele. Entedia seus temores mas, queria que ele reagisse diferente. As coisas não são como a gente quer. Os acontecimentos, mesmo quando esperados, na hora que acontecem são de certa forma inesperados.Depois que tudo acontece e morremos, não voltamos mais. A certeza, que podemos ter, é que todos iremos.No tempo de cada um. Portanto façamos o melhor para com todos pensando no que realmente é melhor para cada um. Precisamos nos excluir em sentimentos próprios nas relações, nos doar,  para ver o outro, apenas o outro.Gostaria que papai estivesse vivo, e  bem. Um idoso de bem com a vida. Mas, a vida passou para ele, nesta esfera e, pensamos que sabemos de nós? Não sabemos de nada.

Agora escrevi sobre minha dor.Parece que a dor maior é depois.O sentimento baseado nas memórias e nas conclusões pessoais é uma dor forte. Mas, ninguém ficará para semente. A vida é eterna. As pessoas não são. E preciso acostumarmo-nos com a idéia de que não ficaremos  para sempre.Vamos morrer. Precisamos é vigiar para aproveitarmos melhor os nossos dias.Desejo-me consolo e conforto. Até breve.

sexta-feira, 30 de março de 2012

O que é Páscoa


A Páscoa se aproxima.
O que é a Páscoa? Qual o seu significado?
Vamos nos preparar para esta comemoração,
que é muito mais que ovo colorido, chocolate, coelho, comida baiana, árabe ou portuguesa. 
Graça

segunda-feira, 19 de março de 2012

Juscelino

Juscelino era seu apelido, pouco usado porque o chamávamos costumeiramente pelo diminutivo de seu prenome: Eduardinho. Ele tinha o mesmo prenome do pai dele. Tio Eduardo.Era Juscelino assim cognominado, porque  nasceu no período climático do governo JK. Talvez desejassem dar este prenome para ele mas, preferiram dar o nome do seu pai. Sua mãe e seu pai preferiram assim, tradição familiar.. Depois de adulto achou melhor ficar longe de todos. As razões verdadeiras somente ele sabia, pela sua verdade.Ele tinha suas verdades.As vezes,  nossas razões são somente nossas, assim como nossas verdades. Mas, cada pessoa tem sua vida e seu tempo de vida. A  pessoa, pode  determina o tempo da sua vida e vice verso.Mas, tudo é importante na vida de cada um de nós e, na vida coletiva, na convivência familiar e na própria vida pessoal, particular. Lembranças que não esquecemos. O tempo passa e fazemos uma história. Querido Eduardinho descanse em paz!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sentido

Ouvir

Estou ouvindo o som do tempo
Escuto o ruído silencioso de vida e morte.
Som sem trégua. Invariável. Som implacável.
Desamparo, solidão e tristeza. Escuto o som da morte.

Estou ouvindo o som do tempo.
Estou ouvindo o som da vida e da morte.
Algo definido, decretado, decidido.
Cercante. Sem saídas. Fechado.

Ouço o som das idas e vindas.Dos risos e dos choros.
Dos ganhos e das perdas. Do sim e do não.
Da s noites e dos dias de Chuva, dos dias de Sol. Nascer , crescer.
Sentido de exposição.Escuto o som da vida .

Existe um sussurro preciso. Mas, um sussurro.
Um abafamento no espaço. Sentido de reclusão.Cheiro de flores murchas abafadas.Desolação, Repulsa.A comoção da cruz do Sol, choro sem fim momentâneo.
Escuto o som da morte.

Graça, 16 de fevereiro de 2012.