domingo, 11 de novembro de 2012

Passeando pelo Tempo

Ela estava sentada na cama. O olhar sem brilho, turvo,azulado, cinza pelo tempo. O olhar de uma velha. O olhar cheio de lembranças, mas inexpressivo pelo domínio da catarata. Mal cuidada aquela senhora nunca fora levada a um oftamologista, para um exame.Frequentara pouco hospitais e clinicas.Naquele tempo não se andava muito em hospitais. Os costumes eram outros.Muitas pessoas morriam muito velhas.Ela morrera com suas lentes óticas cobertas pela catarata. Mas, vivera noventa e cinco anos e ainda enxergava. Enxergava sua neta, criada e mimada por ela,  já moça, cheia de opiniões sofrendo com a doença da avó. Aquela senhora idosa de aparência solene, sabia que iria morrer. Tinha consciência de si. Sabia que estava idosa e, agora, doente, sem poder andar, precisando dos cuidados dos outros; estava  triste mas, era a vida. Estava findando tinha certeza disso. Era o fim do seu  fim. Havia solicitado a sua filha um advogado. Queria organizar a vida de sua neta.Sua filha não fez o que ela pediu. Alegou que era para não preocupar sua neta querida.Ela impotente, amava tanto sua neta que não queria que ela sofresse por nada.Se ao menos pudesse deixá-la casada. Mas, com quem? A moça não tinha pretendentes, só queria saber de estudar..

Estava na casa da filha para ter os cuidados necessários. Mas, queria ir para sua casa, ficar com sua neta. Isto não era mais possível e, esta impossibilidade, machucava aquela nobre senhora. Sua neta não avaliava esta situação. Não tinha condições de avaliar. Preocupava-se demais com assuntos mais particulares que não via mais detalhes.