quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Criança da noite alta.

 As crianças que costumavam vir a noite, rir e brincar lá fora, no escuro, deixaram de vir. Elas brincavam muito e sorriam. Pareciam ter doces ou balas gostosas nas mãos. Bonecas e peões. Pipas. Só as ouvia, nunca as vi. Censurava a situação: pais desalmados , irresponsáveis! Deixam criancinhas na casa dos outros, tarde da noite, correndo e folguedando. Abria a janela, para reclamar. Que é isso! Vocês não dormem? Onde estão Seus pais? Não me davam nenhuma audiência. Não sei onde estavam.

 Provavelmente,  seu mundo era outro que tangenciava o meu. Quando as percebia com os ouvidos já velhos mas, criativos, ficava em grande atenção. Mas, eu sempre busquei imaginar. Agora a imaginação me procura. 

As crianças não vieram mais.Talvez porque tem um tatuzinho peba circulando, lá fora. Talvez porque eu retomei a cerca. Ela não vieram mais porque o costume foi alterado. Talvez porque chegou a Amelinha que late muito. Seus risinhos, comentários e correrias fecharam o ciclo. Seus pais me ouviram e trataram detê-las a noite.

 O nosso ponto de interseção tangente do seu e meu mundos saiu da trajetória espiral. Não sinto saudade delas.  A situação era intrigante. Mas, tudo bem.

Graça Nunes 


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